quinta-feira, 8 de novembro de 2018

Estou Voltando!

Saudações!

A longa Era das Trevas está chegando ao fim...

Em breve estarei postando novos conteúdos!

Abraço!

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Resenha do álbum: Liquido - Zoomcraft

Sólido é que não é

Resenha publicada no site www.poppycorn.com.br

Liquido

Zoomcraft


Conheço e gosto de várias das típicas bandas alemãs contemporâneas - as tais que, via de regra, surgem para se estabelecer imediatamente na linha de frente das metamorfoses que ditam o rumo de uma linha musical na qual os germânicos costumam ser especialistas. Um um estilo que mistura Rock com elementos sintéticos.

Algumas destas bandas apostam em uma tendência mais eletrônica, outras vão em uma linha claramente industrial, umas tem abordagem gótica, outras mostram pegada visceral, quase metálica. Os exemplos notórios: Rammstein, Oomph!, Megaherz e, mais recentemente, Emigrate.

A coisa alcança resultados ainda melhores quando a banda opta por letras em alemão, algo que confere uma aura mais ríspida e exótica a tal estilo musical. Mas, mesmo quando isto não é feito, os climas instrumentais densos e experimentais, aliados à técnica ácida dos vocalistas alemães, são suficientes para criar forte diferencial que qualifica tais bandas, em dado momento, como nomes de vanguarda na cena.

Sendo assim, foi com grande expectativa que adquiri este Zoomcraft, de uma banda com o intrigante nome de Liquido - sobre a qual eu nunca havia ouvido falar. Motivos para o otimismo: uma arte de capa que mostra os rostos dos integrantes da banda cheios de implantes biônicos de aparência futurista – um conceito visual claramente associado ao tipo de música descrito nos parágrafos anteriores. Até o nome do álbum estabelecia tal vínculo.

Então, foi só folhear o encarte e observar o nome dos músicos – sim, você adivinhou, são nomes alemães – que já me decidi por arriscar a levar o cd sem sequer ter escutado o som ou me informado sobre a banda. Bom, nem sempre se acerta neste tipo de palpite...

O som do Liquido é como se fosse uma versão proto da musicalidade dos ótimos grupos acima citados. Digamos que, se o som de Rammstein, Oomph! & afins fosse classificado como “música de adulto”, o conteúdo deste Zoomcraft seria a “música da criançada”, algo que precisaria ainda evoluir muito para chegar no patamar da maioridade.

Sim, há Rock e há ingredientes sintéticos, gerando um clima que se poderia levar bastante a sério caso surgisse no cenário antes que as verdadeiras bandas alemãs de vanguarda aparecessem para dominar o circuito. Em Zoomcraft é tudo muito clean, muito básico, muito primário em comparação com o patamar a que o Electro/Industrial Rock chegou nos dias de hoje.

E pra “ajudar”, o Liquido ainda optou por letras em inglês, e sem qualquer esboço de agressividade nas melodias de voz. Nada da usual técnica vocal alemã, normalmente abrasiva e arrepiante.

O único tema que se salva um pouco é Easy, a décima-sexta faixa, onde pinta um clima meio gótico, com instrumental levemente opressivo e vocal grave. Mas, também, acaba sendo daquelas músicas que começam prometendo e seguem até o final sem ter cumprido a promessa, sem de fato atingir o que fora insinuado por ocasião das melodias iniciais.

E, assim, o Liquido fez minhas sólidas expectativas iniciais serem liquefeitas em um caldo inútil, para então escorrerem ralo abaixo. (até que o trocadilho ficou bem sacado, não?).

Ou seja, eles cumpriram ao menos uma promessa: fizeram um som compatível com o nome da banda. Sem solidez. Inconsistente. Liquido e certo. Quem dera eu houvesse estabelecido esta relação antes de gastar comprando o CD...

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Resenha do álbum: Rammstein - Rosenrot

A consagração da vanguarda alemã

Resenha publicada no site www.poppycorn.com.br

Rammstein

Rosenrot

Os alemães do Rammstein protagonizaram, há alguns anos, uma pequena revolução na música pesada. Valendo-se de elementos do Metal industrial, Rock ‘n’Roll e música eletrônica, criaram um estilo próprio e arrojado, que arrebatou uma legião de fãs nas fileiras das várias vertentes musicais envolvidas, e vêm fazendo escola desde então. Sempre tendo a ousadia como bandeira principal em sua proposta.

A mais nova amostra desta fabulosa experiência auditiva está representada no novo álbum dos caras, Rosenrot. O espetáculo já começa pelo trabalho artístico que envolve a apresentação do produto – mesmo sem conhecer a banda, dá vontade de comprar só pela belíssima imagem da capa. O interior do encarte não fica atrás, e, se considerarmos a versão em formato digipack, só a música sendo muito ruim pra resistir à vontade de ver este objeto em nossa coleção.

Agora, se levarmos em conta o alto nível também no conteúdo musical de Rosenrot, fica fácil ceder à compulsão do nosso lado consumidor. Verdade seja dita, este novo trabalho não chega ao mesmo nível do álbum anterior, o fantástico Reise, Reise. Mas mantém a linha de ação característica da banda, com momentos de incrível originalidade, como na faixa ‘Te Quiero Puta!’, sobre a qual entraremos em detalhes mais adiante.

Quem já teve contato com o som destes insanos sabe qual é o ‘x’ da questão por aqui. Primeiramente, o inspirado equilíbrio entre guitarras com forte acento metálico e uma cozinha de pegada firme, quase brutal, com linhas melódicas eletrônicas pesadas. A química entre o som, digamos, ‘orgânico’ dos instrumentos tradicionais e as linhas sintetizadas de extremo bom-gosto (e sem frescuras ou exageros), aliados à estrutura industrial das composições, define a cara do Rammstein.

E por fim chegamos ao toque de mestre. Para fechar com chave de ouro a perfeita combinação de elementos, o Rammstein tem também os vocais em alemão. É incrível como este idioma confere, por si só, uma baita carga de agressividade ao som. A forma ríspida com que as palavras saem, aliado ao timbre característico que automaticamente assume a voz da maioria dos vocalistas que trabalha com o alemão, tem tudo a ver com música pesada, com a proposta da banda em si. Até composições lentas soam fortes, poderosas, principalmente em função do efeito ‘esticado’ que se obtém ao pronunciar as consoantes, em especial o ‘r’, que soa sempre arrepiante. Até sussurros e declamações em alemão soam carregadas e eficazes neste sentido.

Quanto ao destaque de Rosenrot, sem dúvida fica por conta da nona faixa, a já supracitada ‘Te Quiero Puta!’. Assim como no álbum anterior, onde em duas faixas o Rammstein utilizou idiomas diferentes – o inglês e o russo, na bem sacada dobradinha ‘Amerika’ e ‘Moskau’ – neste novo trabalho eles praticam este interessante artifício, e, agora, em uma letra completa, ao invés de apenas nos refrões. Confesso que sempre fui meio avesso a letras em castelhano, é um idioma que não me agrada na forma cantada. Mas isso é porquê eu nunca tinha escutado o castelhano com sotaque alemão...

Recomendo esta experiência a todos. Quem não estiver pensando em adquirir Rosenrot, dê um jeito, pelo menos, de escutar a faixa supracitada. Além do impagável clima ‘xicano’ da estrutura instrumental, com trompete e tudo – claro, magistralmente aliado ao peso das guitarras e cozinha - ‘Te Quiero Puta!’ traz uma interpretação incrivelmente passional e envolvente do vocalista Lindemann (como de costume), com o atrativo adicional do inusitado idioma utilizado, aqui duplamente peculiar devido à técnica e sotaque que o alemão sempre agrega à suas vocalizações.

Ah, e além disso, nesta faixa temos também um despojadíssimo conjunto de vozes femininas (feito por Carmen Zapata) aparecendo em vários momentos. Claro, fazendo o nobre papel das profissionais que o personagem da letra tanto aprecia...

Outros grandes momentos do play: ‘Benzin’ (pesada e excelente faixa de abertura), ‘Stirb Nicht Vor Mir / Don’t Die Before I Do’ (onde há um dueto entre os idiomas alemão e inglês, sendo o inglês executado pelo lindo vocal feminino de Bobo) e ‘Feuer Und Wasser’ (lenta, introspectiva e hipnótica).

Contra-indicações? Que nada, sirva sem moderação.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Resenha do álbum: Iron Maiden – The X Factor

A obra-prima mais injustiçada de todos os tempos

Aproveitando trechos do review “Blaze – Silicon Messiah”, publicado no sitehttp://www.novometal.com/


Iron Maiden

The X Factor

Repassemos rapidamente alguns fatos que já fazem parte da história do Heavy Metal: todo e qualquer fã de música pesada vai se lembrar de quando Bruce Dickinson saiu do Iron Maiden, que, tempos depois, lançou um novo full-lenght com o novo frontman Blaze Bayley. Nunca constatou-se uma enxurrada tão grande de manifestações negativas por parte de público e crítica especializada, como a que se seguiu ao advento do álbum The X Factor, play de estréia do novo vocalista. Situação esta me deixou particularmente revoltado .

Considero Blaze uma vítima das circunstâncias e um injustiçado. Ao estranhar não apenas uma abordagem vocal radicalmente nova, como também a surpreendentemente exótica e diferenciada textura instrumental que acompanhou a estréia de Blaze, os fãs do Iron Maiden não notaram que o álbum The X Factor consistia em uma absoluta obra-prima da Donzela de Ferro, uma contribuição de valor inestimável ao cenário metálico naqueles tempos de estagnação criativa.

Sim, não tenho receio em repetir que o produto em pauta aqui representa um dos álbuns de Heavy Metal mais fantásticos e irretocáveis de todos os tempos – e teria gostado muito de já ser um redator especializado na época, para poder publicar uma resenha à respeito (e provavelmente gerar uma polêmica sem tamanho, daquelas que fazem tremer os bits de um site).

Gostaria de ter tentado fazer minha (modesta) parte em oposição ao que ocorreu, quando o apego dos fãs e da mídia à figura carismática de Bruce Dickinson (além de uma inevitável e irracional veia conservadora que domina a comunidade headbanger em ocasiões como esta) fez com que a sublime convergência de fatores positivos inserida em The X Factor passasse batida à percepção dos fãs - pior, fez com que o brilhante play fosse execrado com produto de segunda linha.

No caso da bolacha seguinte do grupo com Blaze nos vocais, Virtual XI, ok - concordo e apóio as críticas. Mas de The X Factor para Virtual XI há uma distância imensa, como há também para todos os demais trampos da banda, que possuem, em maior ou menor grau, seus altos e baixos. Mais altos do que baixos em muitos deles, claro, mas nada que se compare a The X Factor e seu conjunto coeso de onze temas irrepreensíveis em sua atmosfera sombria unificada, regada por uma inspiração instrumental poucas vezes vista (ou melhor, ouvida) e uma linha vocal que raramente se encaixou tão bem à proposta de um álbum.

Foram poucas as ocasiões em que observei este tipo de perfeição. Há o The Black Album doMetallica, o Nexus Polaris do (na época) Covenant, o Tortura Insomniae do Ebony Tears, oOutcast do Kreator, o Stormbirds do Ever Eve, o 4 do Danzig, o Sigh No More do Gamma Ray, oPink Bubbles Go Ape do Helloween, o Atropa Natura do User Ne, o Strings Attached do Salem, oPrince Of The Poverty Line do Skyclad... bom, a lista é pequena. Devo estar me esquecendo de uns três ou quatro, no máximo.

Uma boa dica para quem quiser tentar uma reavaliação de sua impressão sobre The X Factor, através de novas audições: pensem neste álbum como se fosse o play de uma outra banda. Escutem-no pelo que ele é, por si só, sem comparar com os outros álbuns do Iron Maiden (de atmosfera e contexto totalmente diferentes), que tantas alegrias - mas de tempero diferente - já lhes deram. São propostas radicalmente divergentes. Não tentem comparar o doce com o salgado, a tradição com a inovação. Cada um tem um espaço e efeito diferente em nosso interior, e podem igualmente obter um reflexo agradável se analisados pelo ângulo correto. Ouçam o The X Factor como o álbum de uma nova banda, sem pensar nos caras que estão tocando ali. Quem sabe, com isto não acabem “vendo a luz” (ou, no caso, “vendo as sombras”)?

É certo que os headbangers em geral não estão habituados ao tipo de voz grave e sombria de Blaze em formações de Classic Power Heavy Metal, como no caso do Iron Maiden - e tal fato converteu-se em preconceito pela maioria esmagadora de fãs e analistas. Habituados a vocal agudo, isto certamente impediu que muitos assimilassem a qualidade do efeito que Blaze conseguiu emplacar junto às assombrosas melodias criadas por Steve Harris & cia naquela ocasião. Deve-se acrescentar que a opção por melodias instrumentais "down" em lugar das usuais "up" não ajudou nada na aceitação pelos fãs da banda.

Também devemos considerar que o timbre sombrio do novo vocalista provavelmente influenciou o restante da banda, fazendo-os, pela primeira vez, apostar em um instrumental denso, em certos momentos até tétrico, pleno de suspense (que se adaptou perfeitamente à interpretação vocal diferenciada). Ou seja, uma coisa puxou a outra. Mais méritos, portanto, para a figura de Blaze Bayley pelo inusitado resultado final do produto. Não que ele tenha sido devidamente elogiado e reconhecido na época...

No final das contas, Blaze saiu do Iron Maiden após o grupo ter feito uma segunda e (desta vez, concordo) malfadada tentativa de emplacar a nova formação e proposta. Então, Bruce Dickinson e o estilo clássico da Donzela de Ferro retornaram à cena. Blaze iniciou um novo rumo em sua carreira, formando uma banda de nome... Blaze – que até tem se saído bem, graças à projeção que seu nome adquiriu após a passagem pelo maior dos medalhões do Classic Heavy Metal em todos os tempos.

O trabalho que Blaze tem feito após a saída do Iron Maiden é realmente bom, mas não chega aos pés da perfeição de The X Factor. Mas, com certeza, ele chegou bem mais longe do teria conseguido se continuasse cantando no desconhecido Wolfsbane e os ingleses do Iron Maiden nunca houvessem lhe convidado a integrar a banda. Sorte nossa. Caso contrário, o mundo também teria perdido uma primorosa obra de arte sonora, conhecida com The X Factor - que, espero, venha um dia a ser compreendida e redimida junto à cena metálica. A posteridade nos dirá.

De qualquer forma, já fiquei feliz por receber várias e inesperadas manifestações (espantosamente positivas) de vários leitores do NovoMetal, após ter tecido boa parte dos comentários acima dentro do review que publiquei sobre o Silicon Messiah, primeiro álbum de vários que Blaze lançaria com seu novo grupo.

E finalmente, após muitos anos de enrolação, crio vergonha na cara para redigir e postar este texto (agora específico) sobre um dos meus álbuns preferidos e matar a vontade que estava reprimida há tempos...

Tracklist:

01. Sign Of The Cross
02. Lord Of The Flies
03. Man On The Edge
04. Fortunes Of War
05. Look For The Truth
06. The Aftermath
07. Judgement Of Heaven
08. Blood On The World’s Hands
09. The Edge Of Darkness
10. 2 A.M.
11. The Unbeliever

Ano de lançamento: 1995

Tempo total: 70 Min

Gravadora: EMI


Line-Up:

Blaze Bayley: Vocal

Steve Harris: Baixo

Janick Gers: Guitarra

Dave Murray: Guitarra

Nicko McBrain: Bateria

Nota: 10.00

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Resenha do álbum: User Ne - Atropa Natura

Fazendo o redator cair do cavalo...

Review publicado no site http://www.novometal.com/

Use Ne

Atropa Natura

Para os leitores que não me conhecem, não vai ser surpresa alguma eu declarar agora que este é um dos melhores álbuns de Metal que já tive a felicidade de escutar na vida. Mas, para quem teve oportunidade de ler algumas de minhas declarações mais polêmicas – em particular quando menciono não suportar música pesada cantada em castelhano, espanhol, português ou italiano – suponho que isto está sendo algo meio chocante (bom, para mim, sem dúvida, está). Manjam aquele lance de “não cuspa pra cima”, de “nunca diga nunca”? Pois é, aconteceu comigo...

Os temos “criativos”, “ecléticos” ou “insanos” não fazem justiça em uma tentativa de descrever os nove músicos geniais que conceberam esta obra-prima musical de nome Atropa Natura. Claro, tive também que dar um jeito de escutar os outros dois full-lenghts dos caras, para checar se não temos aqui mais uma daqueles usuais fenômenos isolados, o tal do raio que não cai duas vezes no mesmo lugar. Mas (com felicidade, diga-se) constatei que não é este o caso, e espero ter em breve a oportunidade de escrever outros textos para os demais álbuns destes espanhóis que atendem por User Ne. Será gratificante, como ocorre neste momento.

Agora, vamos a meu grande susto, ao trauma positivo que sofri na primeira audição desta bolacha: temas com letra em espanhol, mas que não reduziram em um nanômetro sequer o prazer que senti ao escutar cada uma das dezessete composições aqui contidas. Sim, dada a versatilidade e inquietude que obviamente caracteriza esta turma no aspecto inventivo, Atropa Natura também inclui músicas em francês, alemão, inglês, latim e sei lá o quê mais – o que é fantástico, claro. Mas a maioria é em espanhol, e pela primeira vez em minha trajetória posso afirmar, sem desconforto algum, que isto não representou o menor incômodo para meus ouvidos (normalmente tão seletivos neste ponto).

O User Ne emprega muitos elementos folclóricos, tanto através do trabalho de vozes dos quatro (!!!) vocalistas, quanto pelo uso constante de instrumentos como gaita de fole e flauta. Mas, diferentemente do que apurei na mídia especializada, prefiro não classificá-los como banda Pagan Metal. Isto porque o Folk claramente não é o ingrediente que define o grupo, não é o “X” da questão - e sim uma dentre as muitas e distintas ferramentas que os abusados utilizam. Assim, temos em Atropa Natura uma quantidade grande de faixas (dezessete, em bons sessenta minutos de música), onde nenhuma se parece com as demais, dada a diversidade de abordagens que os músicos conseguem adotar. Algumas nada tem de folclóricas – mas também nada possuem de tradicional ou conservador (sendo, na verdade, experimentais e inusitadas ao extremo), o que me leva a escolher o termo Avantgard Metal como o rótulo mais próximo onde encaixar esta banda quase irrotulável.

Todos os instrumentistas e vocalistas mostram performances fabulosas, com talento inequívoco e técnica perfeita dentro do contexto de cada uma das excêntricas composições. A voz feminina, por exemplo, possui uma beleza de fazer inveja a qualquer banda Gothic... mas sem abusar dos tons agudos e soar pomposa demais. As partes cantadas em espanhol são tão contagiantes como qualquer outra, pela primeira vez (ao menos para meus ouvidos, claro), encontrando o nicho exato para se encaixar de forma irrepreensível, em meio às possibilidades quase infinitas que o Heavy Metal proporciona.

Não dá pra apontar destaques qualitativos, mas alguns temas merecem ser citados, por diferentes (mas sempre exóticos) fatores: “Atropa Datura” começa como um diálogo por rádio. O clima tenso que guia a melodia central, somado à capacidade interpretativa dos vocalistas e aos efeitos especiais que permeiam o negócio, fazem-na de fato soar como algo tenso, capaz de gerar real expectativa. E algo curiosamente agradável de se ouvir - mesmo nos trechos em que os vocalistas não estão exatamente cantando, mas sim apenas dialogando em espanhol!

Já “Finger Pinini”, cheia de efeitos sonoros que constroem o ambiente do local em que os protagonistas estão, traz por algum tempo apenas dois homens conversando – sim, também em espanhol – e depois cantando em tom completamente inesperado e distinto do que se poderia esperar. Incrível como funciona bem, mesmo saindo completamente dos rumos previsíveis – ou, talvez, justamente por isto.

Por fim, temos “Todos Recordamos”, uma faixa instrumental e longa, que a princípio pareceria maçante – mas que, por algum motivo, não o é! A coisa não sai muito de uma mesma linha ao longo dos mais de seis minutos, mas, talvez por ter acabado de passar por uma seqüência de quinze temas variados e surpreendentes, tive plena paciência e prazer em ouvi-la por inteiro, numa boa. Será que ela foi colocada estrategicamente neste ponto do álbum para permitir que nosso cérebro relaxe um pouco, enquanto acaba de processar e assimilar a profusão de diferentes sabores pelos quais acabou de passar? Haverá um psicólogo ou neurologista dentre o line-up do User Ne?

Bom, o fato é que tudo isto aqui foi uma grande e deliciosa surpresa... mas atrapalhou meus planos no dia em que o escolhi para escutar. Eu estava inspirado, pretendia escrever umas seis ou sete resenhas em seqüência - só que a audição de Atropa Datura me fez perder o estímulo em ouvir qualquer outra coisa que não fosse ele mesmo, uma vez após outra... até ficar muito tarde e este redator que vos escreve enfim se ver obrigado a desligar o som pra não escutar reclamação dos vizinhos...

Tracklist:

01. Cuadrante 4
02. Vientos Ne Mar
03. Ramlun Sahra Un
04. Chanson, Femme, Vie
05. Das Uhört
06. Atropa Datura
07. Temptation Of Belief
08. 1, 2, 3, Jari
09. III
10. Mañana Mañana
11. El Chascarrillo
12. Inverness Medical Center
13. Stramonium
14. Finger Pinini
15. Asita Venres
16. Todos Recordamos
17. Gaia (Bonustrack)

Ano de lançamento: 2006

Tempo total: 61 Min

Gravadora: Dark Symphonies

Line-Up:

Xalen D Kharnash: Vocal
Pantaraxia: Vocal
Bossu Morbious: Vocal, “Programming”
DeBog: Gaita De Fole, Flauta, Vocal
Reda: Guitarra
Ashkar: Sintetizador
El-Zamut: Bateria
Hils Ver III: Baixo
Kyrtan: Flauta, Percussão, Caixa Flamenca

Nota: 10.00

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Resenha do álbum: Uli Jon Roth (& Sky Of Avalon) - Under A Dark Sky (Symphonic Legend No. 1)

Comprovando o status de Grande Mestre

Review publicado no site http://www.novometal.com/


Uli Jon Roth (& Sky Of Avalon)

Under A Dark Sky (Symphonic Legend No. 1)

Uli Jon Roth foi guitarrista do Scorpions nos primórdios da banda, tendo se mostrado em pouco tempo um músico de primeira linha - de forma que, ao separar-se do emblemático grupo alemão, já possuía um nome consolidado e respeitado no circuito.

Nos últimos tempos, o cara andava sumido do cenário da música pesada, dedicando-se a uma linha de trabalho mais erudita. Eis que, quando menos se espera, Roth retorna ao mundo rocker que o consagrou - e com um trabalho de absurdo respeito, onde mostra saber mesclar com maestria suas mais recentes habilidades em música clássica com a energia da veia roqueira/metálica que o consagrou décadas atrás.

Como se não bastasse, ele se cercou de músicos da mais alta competência e talento para compor o time Sky Of Avalon e gravar este Under A Dark Sky, um trabalho conceitual complexo e magnífico. Versando sobre a relação Terra-Paraíso dos mitos bíblicos, o álbum contém temas de efeito arrebatador, cuja estrutura grandiosa, épica, em momento algum soa forçada ou prepotente - como infelizmente acaba ocorrendo com muitas das ditas Metal-Óperas concebidas nos últimos anos.

O grande destaque ao longo de todo o play, obviamente, está nas maravilhosas melodias de guitarra do mestre Roth, provas incontestáveis de sua qualidade como músico. Confesso que tenho certa dificuldade em demonstrar paciência com longos e elaborados fraseados de guitarra, o que me deixa um pouco avesso às viagens de guitarristas virtuosos em geral. Mas a coisa aqui é feita com tanta sensibilidade e (principalmente) objetividade - ou seja, todas as intervenções soam perfeitamente plausíveis e mesmo necessárias no contexto das composições - que em momento algum Under A Dark Sky mostrou-se cansativo à minha percepção... com exceção de “Benediction”, um tema instrumental que, a meu ver, nada agregou ao conjunto da obra. No mais, as linhas de guitarra que emulam melodias clássicas ou orientalizadas são, particularmente, um tesouro que o generoso Roth espalhou ao longo de toda a bolacha.

Como se não bastasse, as partes orquestradas são belíssimas e de fácil digestão, os demais músicos são perfeitos (o trampo de cozinha é irrepreensível) e a parte lírica foi composta com tanto bom gosto, com melodias de voz tão agradáveis, que ficou impossível não gostar. O timbre e técnica de alguns vocalistas - que poderiam causar resultados enfadonhos em outras situações - aqui em nada me incomodaram, visto que a estrutura das letras tornou-as deliciosas de se ouvir, independente do intérprete em questão (desde que o mesmo não chegue a ser um músico desafinado ou tosco - o que está longe de ser verdade, dado o nível exigido por Roth na escolha de seus coadjuvantes). Ao longo da audição do álbum, fica, claro, evidente para mim que em outros contextos alguns vocalistas aqui não me convenceriam... como de fato já ocorreu no passado, no caso de alguns renomados intérpretes mencionados no line-up ao lado. Mas em Under A Dark Sky ficou tudo nota dez! Prova de que ter uma boa mão na hora de compor faz milagres, é como um toque de Midas. Mais um ponto para Roth, que ao estruturar a parte lírica conseguiu converter vocalistas inócuos em cantores com momentos irrepreensíveis.

Under A Dark Sky, portanto, foi uma excelente escolha para lançamento em território nacional. Será difícil a qualquer tipo de fã de Rock e Metal (exceto os que só curtem o lado mais extremo e visceral da coisa) não apreciar este trabalho de alto nível. Perfeito para fãs de Prog, Hard, Power, Speed, Melodic, música clássica e, especialmente, apreciadores de Óperas-Rock/Metal.

Tracklist:

01. S.O.S.
02. Tempus Fugit
03. Land Of Dawn:
Techno Man
Land Of Dawn
Lion Wings
04. The Magic World
05. Inquisition
06. Latter Of The Law
07. Stay In The Light
08. Benediction
09. Light & Shadows
10. Tanz In Die Dammerung:
Destination Twilight
Morgenrot
Searchlights From Hell
Seelenschmerz
Inside The Titanic
Fama Errat
Requiem For The Nations
Morituri
Rex Tremendae
Star Peace
Tanz In Die Dammerung
Silence

Ano de lançamento: 2008

Tempo total: 64 Min

Gravadora: Hellion / SPV

Line-Up:

Uli Jon Roth: Guitarra, Baixo, Teclado, Vocal
Mark Boals, Liz Vandall, Peter Ewald, Kerstin Domrõs, Michael Flexig, Akasha Dawn Roth, Gwen Adams: Vocal
Nippy Noya: Percussão Étnica
Michael Ehre: Bateria
Chris Lowe: Percussão Orquestrada

Orquestra:

Jonathan Hill, Jonathan Howell, Charles Nolan, Stephen Bentley-Klein, Buffy North, Haley Pomfrett: Violino
Rachel Robson, Felix Tanner: Viola
Nick Holland, Katherine Jenkinson: Violoncelo
Lucy Shaw, Stacey Watson: “C-Bass”

Coral:

Almut Wilke, Christine Borleis: Soprano
Kerstin Domros, Sabine Fiedler, Liz Vandall: Alto
Peter Ewald, Markus Roth, Mark Boals: Tenor
Joachim Fiedler, Jorg Borleis, Michael Flexig: Barítonos
Burkhard Kosche: Baixo

Nota: 9.5

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Resenha do álbum: Lordi - Deadache

Os mesmos "monstros alegres" de sempre

Review publicado no site http://www.novometal.com/

Lordi

Deadache

Neste novo full-length, Deadache, o quinteto de músicos que se apresentam como monstros deformados mandam ver em mais treze temas capazes de chacoalhar os ossos dos fãs de seu Hard Rock festeiro e visceral.

Conhecido pelo nome do líder e frontman Lordi, o grupo já teve alguns trabalhos resenhados no NovoMetal, e quem leu algum dos textos sabe bem do que vou falar aqui agora: um grupo que traz composições de facílima digestão, que qualquer aficionado ao Rock pode assimilar e sair cantando de imediato. O tipo de música perfeita pra deixar tocar, por exemplo, como pano de fundo em uma festa de Halloween.

O que torna as canções interessantes e não gratuitas – dada a simplicidade e “aderência” das melodias – são dois detalhes fundamentais, que sintetizam a marca pessoal do Lordi. Um é o teclado sintomático, pseudo-tétrico, do tipo que se encaixaria bem em histórias de suspense ou terror para... crianças. Isso mesmo, um “terror light”, como a trilha sonora de um A Noiva Cadáver ou A Festa do Monstro Maluco. Mas nem por isso o teclado acaba soando risível em algum momento, já que está sempre inserido no contexto de um vigoroso Hard Rock, agregando um clima diferenciado ao agradável ritmo rockeiro.

O outro fator que registra uma marca única pra o som da banda é o vocal encorpado e visceral do chefão Lordi. Ao mesmo tempo - e de um modo curioso – grave e rasgado, o estilo do cara casa perfeitamente com a proposta de “terror alegre” que os caras ostentam. E com o visual de monstro que os membros do Lordi “vestem”. Me faz lembrar de outro grupo comicamente sinistro e fantasiado, o Gwar.

Deadache não contém tantos temas marcantes quanto os plays anteriores do grupo, embora seja um álbum elogiável por sua regularidade – algo de que seus predecessores eram um pouco carentes, dados os altos e baixos dos tracklists. Só pra não perder a viagem dá pra citar duas faixas como as mais interessantes: “Monsters Keep Me Company” e “Devil Hides Behind Her Smile”.

Resumindo, este é um trampo que não deve desapontar os fãs da banda, mas que dificilmente será capaz de “conquistar” quem nunca se deixou convencer pelos rockeiros monstruosos.

Tracklist:

01. SCG IV
02. Girls Go Chopping
03. Bite It Like A Bulldog
04. Monsters Keep Me Company
05. Man Skin Boots
06. Dr. Sin Is In
07. The Ghosts Of The Heceta Head
08. Evilyn
09. The Rebirth Of The Countess
10. Raise Hell In Heaven
11. Deadache
12. Devil Hides Behind Her Smile
13. Missing Miss Charlene

Ano de lançamento: 2008

Tempo total: 47 Min

Gravadora: Sony / The End

Line-up:

Mr. Lordi: Vocal
Amen: Guitarra
Awa: Teclado, “Backing Vocals”
Kita: Bateria, “Backing Vocals”
OX: Baixo

Nota: 8.0